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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto
9 novembro 2006

A estrela HD 3651, em órbita da qual existe um planeta, tem também uma outra companheira - uma anã castanha.

"Este é um sistema curioso e um exemplo que poderá servir para demostrar que um planeta e uma anã castanha podem co-existir em torno da mesma estrela", afirmou Markus Mugrauer (Universidade de Jena, Alemanha), autor principal do artigo onde esta descoberta é relatada.

A HD 3651 é uma estrela um pouco mais pequena do que o Sol. Encontra-se a 36 anos-luz de distância, na direcção da constelação de Peixes. Há vários anos que se sabe da existência de um planeta extra-solar em órbita da HD 3651. Este planeta, que completa uma órbita em apenas 62 dias, é um pouco mais pequeno do que Saturno mas encontra-se mais perto da estrela do que Mercúrio está do Sol!

A companheira foi pela primeira vez detectada em 2003 por Mugrauer e pelos seus colegas, em imagens obtidas com o telescópio de infravermelhos de 3.8 metros UKIRT no Hawaii. Observações em 2004 e em 2006, levadas a cabo com o telescópio de 3.6 metros NTT do ESO (La Silla, Chile), confirmaram a descoberta. Percebeu-se assim que o objecto detectado era uma companheira da estrela e não apenas uma qualquer estrela de fundo. A companheira, denominada HD 3651B, encontra-se 16 vezes mais longe da estrela HD 3651 do que Neptuno está do Sol.

A HD 3651B é a mais ténue companheira de uma estrela em torno do qual existe um planeta até agora detectada. Aliás, ela não é visível no catálogo estelar Palomar All Sky Survey, o que quer dizer que ela é mais ténue na região visível do espectro do que no infravermelho, ou seja, estamos perante um objecto com pouca massa (sub-estelar) e muito frio.

Ao comparar estas características com os modelos teóricos, os astrónomos concluíram que o objecto terá entre 20 a 60 massas de Júpiter e uma temperatura entre os 500 e os 600 graus Celsius. A companheira é assim 10 vezes mais fria do que o Sol. Este conjunto de propriedades colocam-na na categoria das anãs castanhas do tipo T.

As estrelas do tipo espectral M já são conhecidas (e classificadas) há mais de 100 anos. As estrelas do tipo L são quase exclusivamente anãs castanhas; a primeira foi descoberta há cerca de 10 anos. O primeiro membro das ainda mais frias estrelas do tipo T foi descoberto em meados dos anos 90. Todas as estrelas do tipo T parecem ser anãs castanhas ou super-planetas muito jovens.

Já se detectou a presença de planetas extra-solares em mais de 170 estrelas. Em alguns casos as estrelas apresentam uma ou várias companheiras estelares, o que demonstra que a formação de planetas também pode acontecer em ambientes dinamicamente mais complexos do que o do nosso Sistema Solar, onde a formação de planetas aconteceu em órbita de uma estrela isolada.

Em 2001 esta equipa de investigadores deu início a um programa observacional cujo objectivo era perceber se uma estrela com planetas extra-solares é "solteira" ou "casada", ou seja, será que tem ou não companheiras estelares. Neste programa várias estrelas onde já se conheciam planetas extra-solares foram observadas de forma sistemática em duas épocas diferentes (separadas por vários meses). As companheiras conseguem distinguir-se dos objectos em fundo pois elas também se movem com as estrelas ao longo do tempo, enquanto que os objectos em fundo se mantêm estáticos.

Através deste método eficaz já se detectaram várias companheiras. A maioria serão estrelas de pequena massa que se encontram numa fase de evolução muito semelhante há do Sol. No entanto, duas das companheiras encontradas são anãs brancas, ou seja, estrelas no final da sua vida. Estes sistemas estelares mostram que os planetas conseguem sobreviver aos dramáticos momentos finais da vida de uma estrela vizinha.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-39-06.html

1. A companheira da estrela HD 3651. (©SofI/NTT - ESO) 2. A posição da companheira em relação à estrela HD 3651. (©ESO)