A origem dos jatos dos buracos negros

1. Representação artística do sistema binário Cisne X-1 (ESA)

2. Espetro de Cisne X-1 obtido pelo Integral (Philippe Laurent et al)

28 março 2011

Ao longo de 7 anos, o satélite de raios gama Integral, da ESA, observou um dos mais potentes emissores de raios-X conhecidos, Cisne X-1. Agora, uma equipa de investigadores europeus e norte-americanos reuniu todas estas observações e conseguiu detetar evidências do processo que está a provocar a ejeção de matéria pelo buraco negro.

O sistema binário Cisne X-1 é constituído por uma estrela supergigante azul e um buraco negro cerca de 10 vezes mais massivo que o Sol. Com o seu intenso campo gravitacional, o buraco negro consegue capturar material da estrela companheira, que vai caindo para o buraco negro num movimento em espiral. Assim, forma-se um disco de material extremamente quente em torno do buraco negro, sendo esse disco responsável pela emissão de raios-X típica destes sistemas.

No entanto, o processo de formação dos jatos perpendiculares ao disco, por onde são expelidas partículas com velocidades próximas da velocidade da luz, não é ainda bem compreendido. Não obstante, sabe-se já que esses jatos são os responsáveis pela emissão de raios gama – radiação eletromagnética que apresenta uma energia superior à dos raios-X.

Juntando várias observações de Cisne X-1 realizadas com a visão privilegiada do Integral, os investigadores conseguiram detectar que os raios gama emitidos por este sistema estão polarizados. Esta medição da polarização nos raios gama – a primeira vez que tal foi possível em observações de um sistema similar – permitiu deduzir a presença de campos magnéticos muito intensos e estruturados apenas algumas centenas de quilómetros acima da superfície do buraco negro.

São precisamente estes campos magnéticos que evitam que toda a matéria caia no buraco negro e permitem que algumas partículas consigam escapar-lhe apenas alguns milisegundos antes da sua captura. Assim, este novo método de estudo dos buracos negros deverá permitir-nos em breve compreender melhor os processos físicos extremos que ocorrem nas suas imediações.

Notas
A luz é constituída por ondas eletromagnéticas, que oscilam em todas as direções, mas sob certas condições podem oscilar numa direção específica – luz polarizada. O olho humano, bem como a generalidade dos detetores dos telescópios, é incapaz de distinguir a polarização da luz, e para tal usam-se polarizadores. O exemplo mais comum de polarizadores são os óculos para ver os recentes filmes 3D. Cada lente tem um polarizador diferente, e cada uma deixa passar uma imagem diferente. A sobreposição de duas imagens diferentes dá-nos a sensação de profundidade.

Para mais informações
Comunicado de imprensa da ESA
Comunicado científico da ESA
Artigo científico na revista “Science”