As estrelas Cefeides e os seus "casulos"

1. Imagens modelo da estrela Cefeide L Carinae. (©VINCI,MIDI/VLTI – ESO)

2. O MIDI – instrumento que faz parte do VLTI. (©MIDI/VLTI – ESO)

6 março 2006

Com observações obtidas com o VLTI (ESO) e com o interferómetro CHARA que se encontra instalado no observatório de Mount Wilson (Califórnia, EUA), uma equipa de astrónomos franceses e norte-americanos descobriu envelopes de matéria em volta de três estrelas Cefeides, umas das quais é a conhecida estrela Polar.

A estrela Polar e a estrela Delta Cephei foram observadas pelo instrumento FLUOR, que faz parte do CHARA, enquanto que a estrela L Carinae foi observada com os instrumentos VINCI e MIDI, que fazem parte do VLTI.

Os modelos estelares que actualmente os astrónomos utilizam são, habitualmente, confirmados pelas observações levadas a cabo com os interferómetros. Para a grande maioria das estrelas observadas não se verificam desvios significativos dos modelos teóricos. No entanto, no caso específico destas 3 estrelas, foi detectado um desvio que parece estar relacionado com a presença de um envelope de material existente em torno de cada uma delas.

"O facto de se terem detectado desvios nestas 3 estrelas, cujas propriedades são diferentes, parece indicar que a existência de envelopes em volta de Cefeides poderá ser algo comum a todas elas.", afirmou Pierre Kervella, um dos principais investigadores do projecto.

Os envelopes agora detectados parecem ser 2 a 3 vezes maiores do que as estrelas, que por si só são já muito grandes o raio destas estrelas vai dos 50 às centenas de raios solares. Embora sejam estrelas muito grandes, estão muito longe, o que torna difícil a sua resolução usando para tal um único telescópio. Mesmo as maiores Cefeides, no céu, abrangem um ângulo de apenas 0.003 segundos de arco, o que corresponde a observar uma casa de dois andares na Lua!

Para resolver este problema, os astrónomos usam técnicas de interferómetria, que combinam a luz de dois ou mais telescópios e assim conseguem atingem uma resolução angular que é equivalente à separação real entre os telescópios usados. Com o VLTI é possível conseguir resoluções angulares que rondam os 0.001 segundos de arco.

"O processo físico que levou ao desenvolvimento destes envelopes é ainda desconhecido, mas se pensarmos, por analogia, no que acontece no caso de estrelas de classe diferente, é provável que o envelope seja o resultado de matéria ejectada pela própria estrela", afirmou Antoine Mérand, um dos investigadores da equipa.

As estrelas Cefeides pulsam de forma constante, com períodos de alguns dias. Como consequência destas pulsações, as estrelas atravessam regularmente ocasiões de aumento de amplitude, que originam movimentos rápidos na sua "superfície" (fotosfera), cujas velocidades rondam os 30 quilómetros por segundo, ou seja, 108.000 quilómetros por hora! A formação dos envelopes agora detectados poderá estar relacionada com a pulsação da estrela e a perda de matéria.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-09-06.html