Mini-cometas a caminho da Terra

1. O cometa 73/P observado a 27 de Dezembro de 1995. (©Jim Scotti)
2. Fragmentos do cometa 73/P, observados em Novembro de 2000. (©Kenichi Kadota)
3. Fragmentos observados a 26 de Fevereiro de 2006. (©Giovanni Sostero e Ernesto Guido)
4. Mapas de observação para as noites de 12, 13 e 14 de Maio de 2006. (©Science@NASA)
12 abril 2006

Em 1995, quando se encontrava a cerca de 241 milhões de quilómetros da Terra, o cometa 73P/Schwassmann-Wachmann fez algo inesperado: desfez-se. Sem razão aparente o núcleo do cometa dividiu-se em 3 "mini-cometas" que agora viajam separadamente pelo espaço.

Em Maio de 2006 poderemos observar estes fragmentos de cometa com relativa facilidade pois eles aproximam-se da Terra. Aliás, nos últimos 20 anos, nenhum outro cometa se aproximou tanto do nosso planeta. No entanto, não existe risco de colisão pois o fragmento que mais se aproximará da Terra passará a mais de 9 milhões de quilómetros " o que corresponde a uma distância de 25 vezes maior do que a que separa a Terra da Lua.

"O Telescópio Espacial Hubble (NASA/ESA) e o Rádio Telescópio de Arecibo (Porto Rico) acompanharão esta aproximação e tentarão determinar a forma e rotação de cada fragmento", afirmou Don Yeomans, líder do programa Near Earth Object da NASA.

Os mini-cometas serão visíveis no céu nos dias 12, 13 e 14 de Maio, na direcção das constelações de Cisne e Pégaso. Eles não serão muito brilhantes para serem observados a olho nu terão magnitude de 3 e 4 mas poderão ser vistos com binóculos ou pequenos telescópios. Não podemos esquecer é que estamos perante "mini-cometas" e não grandes cometas, como foi o caso do Hayutake em 1996 e do Hale-Bopp em 1997. Estes cometas podiam ser vistos a olho nu, mesmo a partir de cidades com poluição luminosa. Os fragmentos do 73P serão observados com maior facilidade no campo e em zonas pouco luminosas.

O número de fragmentos tem vindo a mudar. No início, em 1995, eram apenas 3 - A, B e C. Agora parecem ser pelo menos 8. Existem fragmentos grandes como o B e o C, e fragmentos mais pequenos (G, H, J, L, M e N). "Aparentemente os fragmentos estão eles menos a formar os seus próprios sub-fragmentos", afirmou Don Yeomans. Isto pode significar uma duplicação no número de fragmentos à medida que estes se vão aproximando.

Embora muito improvável, poderá também ter lugar em Maio uma chuva de meteoros provocada pela nuvem de poeiras formada pela fragmentação inicial do cometa. O astrónomo Paul Wiegert, da Universidade de Ontário Ocidental, estudou esta possibilidade: "Acreditamos que a velocidade de expansão da nuvem de detritos é demasiadamente pequena para que em apenas 11 anos atinja a Terra. No entanto, tudo irá depender do que levou à desintegração do cometa, e isso é algo que ainda não conseguimos determinar com toda a certeza."

A explicação mais provável poderá estar relacionada com instabilidade térmica que levaria à fragmentação do núcleo gelado do cometa - o mesmo acontece a um cubo de gelo quando é imerso numa sopa quente. O cometa desfez-se ao aproximar-se do Sol, após ter passado muito tempo nas regiões mais exteriores e geladas do Sistema Solar. Se foi isto o que realmente aconteceu, então a nuvem de detritos e poeiras deverá expandir-se lentamente não dando origem a uma chuva de meteoros intensa. Por outro lado, se o cometa fracturou devido à colisão com um outro objecto, a nuvem de poeiras resultante teria uma velocidade muito superior, podendo atingir a Terra já em 2006.

Chuvas de meteoros provocadas por detritos de cometas moribundos não são inéditas. Um bom exemplo é o cometa Biela, que começou a fracturar em 1846 e que em 1872 já se tinha desintegrado por completo. Este cometa foi responsável por pelo menos 3 intensas chuvas de meteoros (3.000 a 15.000 meteoros por hora), que tiveram lugar em 1872, 1885 e 1892.

Assumindo que a separação do 73P teve origem em instabilidade térmica, Paul Wiegert e a sua equipa de investigação calculou a trajectória mais provável da nuvem de poeiras. O resultado aponta para que esta chegue à Terra em 2022 produzindo uma chuva de meteoros não muito intensa.

Para mais informações
http://science.nasa.gov/headlines/y2006/24mar_73p.htm