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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto
21 outubro 2011

O telescópio espacial Spitzer (NASA) detetou sinais de corpos gelados a cair sobre os objetos que compõem o sistema planetário que orbita a estrela Eta Corvi, da constelação do Corvo.

Este “aguaceiro” assemelha-se ao que teve lugar no nosso Sistema Solar há cerca de 4 mil milhões de anos atrás, durante a época apelidada de “Último Grande Bombardeamento”, que terá trazido água e outros ingredientes relacionados com a vida para a Terra. Durante o “Último Grande Bombardeamento”, no Sistema Solar, cometas e outros objetos gelados provenientes das regiões mais exteriores, massacraram os planetas interiores. Esta onda de impactos marcou a superfície da Lua e produziu grandes quantidades de poeira.

O Spitzer detetou uma faixa de poeira em volta de Eta Corvi que parece corresponder aos componentes de um cometa gigante que se terá obliterado após colisão com um planeta ou com um outro corpo de grandes dimensões. A poeira encontra-se bastante perto de Eta Corvi o que sugere a existência de planetas do tipo terrestre na região. O sistema Eta Corvi tem aproximadamente 1000 milhões de anos de idade, o que para os cientistas parece ser a idade em que este tipo de fenómenos de bombardeamento poderá ter lugar.

Os astrónomos usaram os detetores de infravermelho do Spitzer para analisar a luz proveniente das regiões circundantes de Eta Corvi. Curiosamente a assinatura espectral da radiação emitida pela poeira que rodeia Eta Corvi é semelhante à do meteorito Almahata Sitta, que se fragmentou sobre o Sudão em 2008. As semelhanças entre o meteorito e o objeto destruído implicam que possivelmente ambos terão tido origem no mesmo local nos seus respetivos sistemas estelares.

Um segundo anel de poeira mais fria, que se encontra no limite exterior do sistema Eta Corvi, parece ser um bom local para a existência de um reservatório de cometas e corpos semelhantes. Este anel brilhante, descoberto em 2005, tem uma dimensão igual à da Cintura de Kuiper do nosso Sistema Solar, para onde se deslocaram as ‘sobras’ geladas e rochosas da formação dos planetas. Os cometas de Eta Corvi e o meteorito Almahata Sitta poderão ter tido origem nas Cinturas de Kuiper dos seus respetivos sistemas.

Há quatro mil milhões de anos, não muito depois da formação do nosso Sistema Solar, os cientistas acreditam que a Cintura de Kuiper terá sofrido grandes perturbações provocadas pela migração de Júpiter e Saturno. Esta grande alteração do balanço gravitacional do Sistema Solar fez com que grande parte dos objetos da Cintura de Kuiper tenham saído para o espaço intraestelar, produzindo um cintura de poeira fria. No entanto, alguns dos objetos dirigiram-se para o Sistema Solar interior cruzando a órbita da Terra de dos restantes planetas rochosos.

O bombardeamento desencadeado por esta alteração durou cerca de 3,8 mil milhões de anos. O impacto dos cometas na face da Lua que vemos da Terra fez com que magma saísse da crusta lunar - o que está na origem dos famosos Mares da Lua. Os cometas também atingiram a Terra (alguns incineraram-se na atmosfera), e pensa-se que terão depositado água e carbono no nosso planeta. Este período de impactos poderá ter ajudado a evolução de vida na Terra, pois terá sido a origem de alguns dos componentes dessa mesma vida.

“Ao estudar melhor o sistema Eta Corvi poderemos perceber como o impacto de cometas e de outros objetos poderá ter desencadeado a existência de vida no nosso planeta.”, afirmou Carey Lisse, investigador do Laboratório de Física Aplicada da Universidade de Johns Hopkins (Laurel, Maryland, E.U.A.)

Para mais informações
Science@NASA

Ilustração: tempestade de cometas em torno da estrela Eta Corvi. (NASA / JPL-Caltech)