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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto
27 setembro 2006

Um grupo de astrónomos está a tentar perceber qual a história da Via Láctea, e para isso decidiu estudar com detalhe a composição química das estrelas da nossa galáxia, e assim compreender qual a diferença intrínseca entre as populações estelares que habitam as susa diferentes regiões.

Este estudo, levado a cabo com a ajuda do observatório VLT (ESO) vem, "pela primeira vez, estabelecer que existe uma clara "diferença genética" entre as estrelas do disco e as do núcleo da nossa galáxia", afirma Manuela Zoccali, principal autora deste trabalho. "Deste estudo podemos inferir que o núcleo se terá formado mais rapidamente do que o disco, provavelmente em menos de um milhar de milhão de anos, e quando o Universo era ainda muito jovem."

A Via Láctea é uma galáxia espiral com braços que desenham um redemoinho e são constituídos por gás, poeira e estrelas que habitam um fino disco que tem início na região central da galáxia. Enquanto que o disco da Via Láctea é constituído por estrelas de todas as idades, o núcleo é constituído por estrelas velhas que terão a idade da nossa galáxia - cerca de 10 mil milhões de anos. Por isso, estudar o núcleo da nossa galáxia é olhar para o passado, é entender como a Via Láctea se formou.

Para tentar compreender este passado, uma equipa internacional de astrónomos analisou com detalhe a composição química de 50 estrelas gigantes de 4 regiões diferentes do céu, na direcção do núcleo galáctico. O trabalho foi feito recorrendo a espectros de alta resolução, obtidos com o espectrógrafo FLAMES/UVES do VLT.

A composição química das estrelas contém a assinatura dos processos de enriquecimento por que passa a matéria interestelar até ao momento da formação das estrelas. Em particular é importante perceber qual a abundância em Oxigénio e Ferro nas estrelas. O Oxigénio é essencialmente produzido em explosões de estrelas de grande massa e tempo de vida curto supernovas do tipo II, enquanto que o Ferro tem origem em supernovas do tipo Ia, cujo tempo de vida é bem mais longo. Comparando a abundância destes dois elementos podemos compreender a taxa de formação estelar na Via Láctea.

Os astrónomos conseguiram estabelecer que para uma mesma quantidade de Ferro, as estrelas do núcleo possuem mais Oxigénio do que as suas "companheiras" do disco. Isto indica que existe uma diferença, sistemática e hereditária entre as estrelas do núcleo e do disco. "Por outras palavras, as estrelas do núcleo não tiveram origem no disco e tendo depois migrado para o centro, para construir o núcleo. Estas estrelas formaram-se de forma independente das estrelas do disco.", afirmou Zoccali. "Além disso, o enriquecimento químico do núcleo e também a escala de tempo que levou há sua formação foi mais rápida do que a do disco."

Comparações entre modelos teóricos indicam que o núcleo galáctico se formou em apenas um milhar de milhão de anos, e possivelmente através de uma série de momentos de intensa formação estelar numa época em que o Universo era ainda muito jovem.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-34-06.html

1. Esta é uma das regiões do céu observada neste estudo. (©FORS/VLT - ESO)
2. A abundância de Oxigénio no núcleo da galáxia. (©ESO)